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Sem vacinas, países pobres expõem desigualdade.

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Sem vacinas, países pobres expõem desigualdade que dificulta resposta contra Covid. OMS já havia alertado para desigualdade. Lógica do capitalismo venceu.

Vacinas. Essa é a única saída para enfrentar a Covid e isso já está provado. Porém, a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou: a pandemia da covid-19 só vai ser controlada quando ela for controlada em todos os países.

Esse alerta foi um aviso de que a desigualdade seria um empecilho no combate à Pandemia mundial.

Menos de um ano depois de as primeiras doses da vacina serem administradas em braços de europeus, americanos e de outros países ricos, a crise sanitária volta a assustar o planeta, derruba bolsas, obriga governos ricos a suspender voos e reabre o temor sobre o vírus.

A nova variante ômicron, identificada no sul do continente africano, apresenta duas vezes mais mutações que a variante delta, a mais perigosa até agora. A fabricante de vacinas Moderna emitiu um comunicado dizendo que existe possibilidade da variante escapar da imunidade que a vacina proporciona.

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Para a OMS, o cenário de uma nova variante ainda mais perigosa sempre esteve sobre a mesa. Com a distribuição desigual de vacinas, países mais pobres teriam baixa cobertura vacinal e isso propiciaria que o vírus circulasse e pudesse desenvolver mutações capazes de escapar da proteção que as vacinas propiciam.

O surgimento da nova variante Omicron, escancara o fracasso em distribuir vacinas de forma justa pelo planeta.

Por meses, as entidades internacionais, governos de diferentes partes do mundo e grupos de cientistas insistiram que essa distribuição não era caridade, era obrigação. A igual distribuição de vacinas seria a garantia de reduzir os riscos do surgimento de novas mutações.

Antonio Guterres, secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), chegou a alertar que a concentração de doses nas mãos de poucos países era “estúpido”. Mas os apelos não tiveram consequências.

Cientistas alertavam que a única forma de frear o surgimento teria sido por meio de uma vacinação ampla de todos os países, capaz de criar uma imunidade e reduzir as transmissões. Com a queda da transmissão, o risco de mutações também cairia.

Foi então criado um fundo que, com recursos e vacinas, garantiria a distribuição de doses a todos os países e, assim, permitiria uma imunidade para o planeta. Mas a estratégia —que ganhou o nome de Covax— fracassou e o nacionalismo e o mercado venceram.

O mecanismo, que pretendia distribuir 2 bilhões de doses de vacinas até o fim de 2021, conseguiu atingir apenas 25% de sua meta. Não faltou dinheiro. Faltaram vacinas, guardadas como tesouros nas prateleiras dos países ricos. Vários deles, como no caso do Canadá, chegaram a comprar vacinas para o equivalente a seis vezes sua população.

Se a ciência venceu e produziu vacinas em tempo recorde, o capitalismo também. E impediu que a lógica da saúde prevalecesse sobre a do mercado.

Empresas farmacêuticas resistiram aos apelos por quebra de patentes e, um ano depois de o projeto ter sido lançado por Índia e África do Sul, europeus resistem à ideia de suspender as patentes e permitir que versões genéricas sejam produzidas.

A lógica do mercado se mostrou de forma tão clara que, em meio ao debate sobre vacinas, foi descoberto que uma das poucas fábricas na África com vacinas exportava os produtos para os países europeus.

Apartheid de Vacinas

Assim, um ano depois de a vacinação começar no mundo e de certos países terem atingido mais de 70% de suas populações com doses completas, continentes inteiros continuam esperando sua vez.

Hoje, quase 40 países pelo mundo continuam com uma cobertura de vacinas de menos de 10% de suas populações.

Na República Democrática do Congo, a taxa é de apenas 0,1%, contra 1% no Haiti, 1,3% no Sudão e 1,5% na Etiópia.

A Nigéria, um dos principais centros econômicos da África e com uma população de mais de 200 milhões de habitantes, a taxa de vacinação é de apenas 1,7%. Em Angola, ela não chega a 10%.

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Em Botsuana, 80% da população não tem qualquer previsão de receber a primeira dose. Na África do Sul, a proteção chega a apenas 24% da população e 25 milhões de doses foram distribuídas. O volume é inferior ao que o estado da Flórida distribuiu à sua população.

Além do problema de saúde, o isolamento aos países pobres irá aumentar, pois reduzirá o número de turistas, investidores. Isso aumentará ainda mais a lacuna da desigualdade que eles já enfrentam. Esse é o chamado Apartheid de vacinas.

No mundo, 7,8 bilhões de doses já foram distribuídas, número mais que suficiente para imunizar grande parte das populações mais carentes, mas isso não aconteceu. Essas pessoas estão marginalizadas e essa é a perversa lógica do capitalismo.

Só que quando se trata de saúde, o problema deixa de ser isolado e torna-se mundial.

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