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O planeta pede urgência na questão climática

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O planeta pede urgência na questão climática e autoridades tentam conter cenário catastrófico. Semana será de reuniões e esforços na Cúpula de líderes visando futuro climático e a reunião do Acordo de Paris, que ocorrerá em Glasgow.

O planeta pede urgência no combate ao aquecimento global; constantes aumentos na temperatura média da terra geram previsões de catástrofe climática se nada for feito imediatamente.

Autoridades tratarão na Cúpula de Líderes que ocorrerá nesta semana, entre 22 e 23 de Abril, as metas e as ações emergenciais que deverão ser traçadas para cada país buscar redução nos níveis de desmatamento e na emissão de gases que agravam o efeito estufa.

O que é a Cúpula de Líderes? No papel de anfitrião virtual, o presidente americano Joe Biden recepcionará 40 chefes de Estado, entre eles Jair Bolsonaro – que estava de fora da lista – na chamada Cúpula de Líderes sobre o clima, nos próximos dias 22 e 23 de abril.

O evento é visto como uma oportunidade central para que Biden assuma o papel de protagonismo político global em questões climáticas, agenda que ele reiterou ser uma prioridade de sua gestão durante toda a campanha eleitoral de 2020, da qual saiu vitorioso.

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O evento servirá para que os americanos reafirmem compromissos que ignoraram nos últimos anos de governo Trump, para tentar impedir que o planeta se aqueça acima de 1,5 ºC no futuro. De acordo com o consenso entre os cientistas, um aumento da temperatura além de 2ºC causará mudanças irreversíveis na face da Terra.

O governo Biden pretende anunciar metas mais ambiciosas de redução das emissões de CO2 americanas até 2030.

Futuro do clima e Acordo de Paris estará em Glasgow 2021

A pandemia de covid-19 pôs este ano um parêntesis na ambição internacional sobre as alterações climáticas, que agora se centraliza na conferência do clima marcada para dezembro de 2021 em Glasgow.

Será na cidade escocesa que se realizará a 26ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas e se espera que os países reforcem contribuições políticas e financeiras para cumprir o Acordo de Paris de 2015.

Os compromissos atuais “estão longe de ser suficientes” para limitar o aumento da temperatura média do planeta a um máximo de 1,5 ºC, como tem afirmado Antônio Guterres, secretário geral da ONU.

“Se não mudarmos o curso, poderemos estar caminhando para um aumento catastrófico na temperatura [média] de mais de 3 ° C neste século”

Antonio Guterres, secretário Geral da ONU

Na contramão dos esforços mundiais

Na contramão dos esforços mundiais, a meta apresenta pelo Brasil no Acordo de Paris do ano passado permite desmate 78% maior em 2025 do que no período anterior. Além da meta fora da realidade, o Brasil vem registrando constantes recordes de desmatamento graças às flexibilizações nas leis ambientais proporcionadas pelo governo de Jair Bolsonaro.

A nova meta climática apresentada pelo Brasil ao Acordo de Paris em dezembro de 2020 permite ao país desmatar 13,4 mil km² ao ano da Amazônia até 2025 e, ainda assim, ficar dentro do compromisso.

A conclusão é de um estudo divulgado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Considerando que a meta climática proposta pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, permitirá o Brasil chegar em 2025 emitindo 1,7 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, os cientistas calcularam quantos km² de destruição “cabem” neste limite, uma vez que o desmatamento florestal está diretamente ligado às emissões.

A marca de mais de 13 mil km² de desmatamento anual estimada pelos pesquisadores é 20% maior que o recorde registrado em 2020, quando a Amazônia teve uma área de 11.088 km² desmatada, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“Os 13.4 mil km² que o estudo projeta para 2025 é 78% maior que os 7.4 mil km² que tínhamos em 2018, antes do início do governo Bolsonaro”, explica Raoni Rajão, coordenador do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da UFMG.

A meta climática do Ministério do Meio Ambiente também vai contra o plano de redução de desmatamento oficializado pelo próprio governo federal: segundo uma resolução assinada pelo vice-presidente do Brasil e presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, Hamilton Mourão, o país se compromete a reduzir o desmatamento para 8.700 km² até o fim de 2022.

“As metas voluntárias para o acordo de Paris deveriam ser a mais alta ambição de cada país. Infelizmente o Brasil aponta na direção oposta ao permitir uma emissão absoluta maior, o que representa na prática a piora da situação atual do desmatamento na Amazônia”, diz Rajão.

Atualmente, a emissão líquida do Brasil é de cerca de 1,6 bilhão de toneladas de gases – o país é o sexto maior emissor de gases do planeta.

O que acontece com a vida na terra com aumento na temperatura?

No último século, nossa Terra já testemunhou um vertiginoso aumento na temperatura: 1°C entre a era pré-industrial e os dias de hoje. Se essa elevação chegar a 2°C, as consequências se espalharão como bombas explosivas em várias direções.

Meio grau nunca importou tanto.

Com um aumento de meio grau acima dos 1,5ºC – que já seriam catastróficos, porém esperados – nós experimentaríamos, por exemplo, uma alarmante elevação do nível do mar, expondo 69 milhões de pessoas a desastres como enchentes em áreas costeiras. A perda que sofreríamos na biodiversidade com o aumento de 1,5°C seria catastrófica, mas caso a elevação fosse de 2°C, o problema seria completamente irreversível direcionando ao desaparecimento de espécies de animais, vegetações e insetos, além da morte de praticamente todos os recifes de corais.

Muitos dos ecossistemas de nosso planeta estão sob risco de mudanças radicais que podem matar os biomas naturais. Com um aumento da temperatura global do planeta em 2°C, cerca de 13% da terra, da tundra às florestas, sofreriam com essas mudanças, significando desequilíbrios irreversíveis em suas floras e faunas. Se o aumento estiver na casa dos 1,5°C, a área de terra do planeta seria reduzida a 4%.

Além disso, quanto maior a temperatura, maior o impacto no pergelissolo (permafrost) do Ártico, o qual derreteria entre 35% a 47% com a elevação de 2°C, número este que cai para 21% caso a temperatura global se elevasse em 1,5°C.

A variação no aumento da temperatura de +/- 0,5°C pode não causar o mesmo impacto em todas as áreas e ecossistemas do planeta; as consequências do aquecimento global, como extinções, ocorrerão onde as espécies não tem mais habilidades para lutar contra essas mudanças.  

Não se pode negociar com a ciência.

O planeta pede urgência na nossa ajuda para evitar esses cenários e isso exige transformações drásticas na economia e na indústria, além de um compromisso firme entre os governos, o setor privado e a sociedade para parar o aquecimento global.

Para tentar manter o aquecimento global em 1,5°C a longo prazo, o mundo precisa reduzir a emissão de CO2 em 45% até 2030, no que diz respeito a 2010, e chegar a zero de emissão líquida (neutralidade de carbono) até 2050.

Para tal, as emissões líquidas anuais devem ser reduzidas pelo menos pela metade do que são hoje, por exemplo, de 52Gt para 25Gt por ano. O papel das energias renováveis será fundamental para alcançar esse resultado, e em 2050 elas deverão suprir de 70% a 85% de todas nossas necessidades energéticas.

Medidas radicais também são necessárias para substituir combustíveis fósseis no transporte, aperfeiçoar a produção de alimentos e evitar o desperdício.








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