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Maior relatório climático é alerta final à humanidade

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ONU publica maior relatório climático já elaborado; conclusões são alarmantes e da alerta final à humanidade.

O maior relatório climatico já produzido e divulgado nesta segunda (9), pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), é um “alerta vermelho” e que prevê cenários sombrios para o futuro da humanidade. 

Os eventos climáticos e meteorológicos estão se tornando mais comuns e severos, e o aumento do nível do mar já começa a inundar algumas áreas costeiras com regularidade. O tempo para cumprir as metas do Acordo Climático de Paris e evitar os piores cenários futuros está cada vez mais escasso.

Escrito por mais de 230 cientistas renomados de países ao redor do mundo, os alertas fazem parte do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (IPCC AR6), o primeiro deste tipo desde 2013. É o relatório climático mais significativo publicado em anos pela comunidade científica internacional. Trata-se da síntese de mais de 14.000 citações de pesquisas.

É uma verdadeira enciclopédia do clima, um documento com riqueza de detalhes e profundidade como jamais se viu na ciência meteorológica, um resumo do mais recente consenso científico sobre as mudanças climáticas e o que o futuro prenuncia, mediante modelos climáticos dos mais sofisticados e do conhecimento das condições passadas.

“Trata-se de um alerta vermelho para a humanidade”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. “Os alarmes são ensurdecedores: as emissões de gases de efeito estufa provocadas por combustíveis fósseis e o desmatamento estão sufocando o nosso planeta”, disse o secretário. 

As concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera eram maiores em 2019 do que em qualquer momento em pelo menos dois milhões de anos, e os últimos 50 anos tiveram um aumento da temperatura na Terra sem precedentes em pelo menos dois mil anos.

Relatório

De acordo com o documento do IPCC, a temperatura global subirá 2,7 graus em 2100, caso se mantenha o atual ritmo de emissões de gases de efeito estufa. No novo relatório, que saiu com atraso de meses devido à pandemia de covid-19, o Painel intergovernamental considera vários cenários, dependendo do nível de emissões que se alcance.

Manter a atual situação, em que a temperatura global é, em média, 1,1 grau mais alta que no período pré-industrial (1850-1900), não seria suficiente: os cientistas preveem que, dessa forma, se alcançaria um aumento de 1,5 grau em 2040, de 2 graus em 2060 e de 2,7 em 2100.

Esse aumento, que acarretaria mais acontecimentos climáticos extremos, como secas, inundações e ondas de calor, está longe do objetivo de reduzir para menos de 2 graus, fixado no Acordo de Paris, tratado no âmbito das nações, que fixa a redução de emissão de gases de efeito estufa a partir de 2020, impondo como limite de subida 1,5 grau centígrado.

O estudo da principal organização que estuda as alterações climáticas, elaborado por 234 autores de 66 países, foi o primeiro a ser revisto e aprovado por videoconferência.

O relatório observa que muitos dos efeitos das mudanças climáticas até 2050 já são inevitáveis pelas emissões que já foram feitas e alcançaram a atmosfera, mas observa que ainda há tempo para reduzir significativamente os impactos climáticos no final deste século.

Os peritos reconhecem que a redução de emissões não terá efeitos visíveis na temperatura global até que se passem duas décadas, ainda que os benefícios para a contaminação atmosférica possam ser notados em poucos anos.

O IPCC já produziu relatórios de avaliação abrangentes com intervalos de anos, começando em 1990, entretanto com outros relatórios especiais intermediários.

Assim como na extensa avaliação (AR5) publicada no ano de 2013, o relatório publicado nesta segunda-feira (09), não deixa qualquer margem para céticos e demonstra a urgência na maneira que lidamos com o planeta. As mudanças climáticas já são visíveis e caminham para um ponto de não retorno. 

“Mudanças generalizadas e rápidas” já ocorreram e o impacto é cada vez mais sentido em todo o mundo. “Indicadores em grande escala de mudanças climáticas na atmosfera, oceano e criosfera [áreas congeladas] estão atingindo níveis e mudando em taxas nunca vistos em séculos a muitos milhares de anos”, dizem os autores do relatório.

Para bom entendedor e em bom português, o estrago já foi feito, mas ainda é possível evitar o pior. O relatório traz uma mudança de linguagem e de perspectiva sobre o clima. Em comparação com seu primeiro relatório, em 1990, a nova avaliação climática do IPCC reflete a transição do aquecimento global como um problema futuro distante para uma crise na atualidade.

Degelo

O aquecimento do planeta está derretendo o gelo a taxas sem precedentes nos tempos modernos. A cobertura de gelo do mar Ártico no final do verão é menor do que em qualquer época dos últimos mil anos. O recuo das geleiras não tem precedentes nos últimos dois mil anos com quase todas as geleiras do mundo recuando desde a década de 1950.

Aumento do nível do mar

Os gases de efeito estufa, aquecimento do planeta e derretimento do gelo da Terra estão a provocar grandes mudanças nos oceanos. A taxa de aumento do nível do mar é hoje a mais alta em pelo menos três mil anos. O nível médio global do mar cresce cada vez mais e está acelerando. A taxa de aumento foi de 1,3 mm por ano entre 1901 e 1971, mas aumentou para 3,7 mm por ano entre 2006 e 2018. Cerca de 90% do excesso de calor aprisionado no sistema terrestre é armazenado nos oceanos. Como resultado, o oceano está ganhando calor mais rápido do que em qualquer momento desde o final da última Idade do Gelo.

Acidificação dos oceanos 

O dióxido de carbono se dissolve na água do mar e torna o oceano mais ácido, o que representa uma ameaça para os corais e outras formas de vida marinha. A acidificação dos oceanos está agora em níveis “incomuns nos últimos dois milhões de anos”, diz o relatório.

Eventos extremos

A discussão sobre condições meteorológicas extremas é uma grande parte do relatório deste ano e que é claro: “A mudança climática induzida pelo homem já está afetando muitos climas e extremos climáticos em todas as regiões do globo”.  O aquecimento traz mais ondas de calor, fortes precipitações, aumentos nos furacões mais intensos, secas e os chamados eventos compostos em que o impacto de vários desastres se acumula.

E o relatório avisa que o pior está por vir. Com 1,5ºC de aquecimento global – um nível que provavelmente será atingido em 2030 – o documento afirma que devemos esperar ver “eventos extremos sem precedentes no registro de observação”.

Ondas de calor

As ondas de calor têm a conexão mais óbvia com o aquecimento global. Eles se tornaram “mais frequentes e mais intensas na maioria das áreas do planeta desde 1950”, diz o relatório. Extremos recentes teriam sido “extremamente improváveis ​​de ocorrer sem a influência humana no sistema climático”.

O documento também observa que as ondas de calor marinhas – temperaturas excepcionalmente altas em águas oceânicas – quase dobraram desde a década de 1980, com impressões digitais humanas na maioria delas.

Chuva

À medida que a temperatura do ar aumenta, a atmosfera pode reter mais umidade e, assim, produzir chuvas mais intensas. Como resultado, os eventos de precipitação muito intensa aumentaram em frequência e intensidade desde 1950.

Este é um risco muito alto para grandes cidades que sofrem com alagamentos ou inundações repentinas. A mudança climática também está contribuindo para as secas, muitas vezes por causa do aquecimento que leva ao aumento da evaporação dos solos e da vegetação.

Ciclones tropicais

Com temperaturas mais altas do oceano e mais umidade atmosférica disponível, ciclones tropicais e furacões estão passando por mudanças. A proporção global de grandes tempestades (categorias 3 a 5) aumentou nas últimas quatro décadas e a mudança climática também aumenta a forte precipitação associada a elas.

Os impactos no Brasil

Os efeitos das mudanças climáticas devem se tornar ainda mais dramáticos no Brasil nas próximas décadas com condições extremas cada vez mais freqüentes na temperatura e no regime de chuva. Em qualquer dos cenários apresentados pelo IPCC, haverá impactos negativos no país, mas sob o pior cenário de aquecimento de até 4ºC elas podem ser de enorme gravidade no território brasileiro.

Todas as regiões do Brasil devem experimentar um aumento da temperatura média nas próximas décadas sob qualquer dos cenários apresentados pelo relatório, do otimista ao pior. O aquecimento seria maior principalmente no Norte, no Centro-Oeste e no Nordeste do Brasil. 

Estas mesmas regiões experimentariam também um significativo decréscimo da chuva, o que levaria a secas muito mais freqüentes, severas e duradouras e traria conseqüências em grande escala para a produção agrícola, especialmente considerando que estas regiões são as que mais apresentam crescimento de áreas de produção.

Ainda, a diminuição da chuva levaria a um maior processo de desertificação em diversas regiões, o que tem efeitos de maior escala no Nordeste. 

No Sul do Brasil, ao contrário, além do clima mais quente, a tendência pelas projeções do IPCC para as próximas décadas é de um aumento da chuva. Isso pode levar a episódios de enchentes mais freqüentes e a maior presença de umidade na atmosfera com ar mais quente pode induzir uma maior ocorrência de episódios de tempestades severas.

Cenário de Filme

Talvez o aspecto mais preocupante do relatório venha em sua análise dos chamados eventos de baixa probabilidade, mas de alto impacto, como o colapso do manto de gelo ou uma alteração abrupta na circulação oceânica.

Embora a probabilidade ou o tempo dessas ocorrências não possam ser previstos com qualquer grau de precisão, o relatório diz que tais ocorrências não podem ser descartadas e devem fazer parte de nossa avaliação de risco.

Um exemplo de tal evento é um ponto de inflexão potencial no sistema atual do Oceano Atlântico, conhecido como Atlantic Meridional Overturning Circulation, ou AMOC, que tem enfraquecido ou possivelmente até mesmo caminhando para o colapso. É o cenário de colapso climático do filme O Dia Depois de Amanhã.

O sistema, que circula águas mais quentes dos trópicos para o Norte e envia água mais fria para o Sul em correntes mais profundas, tem efeitos de longo alcance nos padrões climáticos em grandes porções do globo.

A preocupação com isso vem crescendo. Há apenas alguns anos, o IPCC avaliou que um colapso nesta circulação oceânica muito importante não seria provável por centenas de anos, mas desta vez eles não têm tanta certeza.

Agora, os autores dizem que o AMOC é “muito provável que enfraqueça ao longo do século 21 para todos os cenários de emissão”, e eles só podem dizer que “há uma confiança média de que não haverá um colapso abrupto antes de 2100”. Se tal colapso ocorresse, provavelmente causaria mudanças drásticas nos padrões climáticos regionais e no ciclo da água, causando impactos generalizados e significativos sobre as chuvas e a seca em todo o mundo

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