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Coronavírus: variante brasileira é mais perigosa

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Coronavírus: Variante brasileira aumenta em 10 vezes a presença do vírus em doentes, além de ser mais contagiosa. Casos explodem no Brasil e colapso já é realidade.

Coronavírus: Um estudo de epidemiologia genômica assinado por 29 pesquisadores da área de virologia no Brasil, publicado nesta sexta-feira (26), revela que pacientes infectados com a nova variante P.1, de origem no Amazonas, têm uma carga viral 10 vezes maior em secreções colhidas por amostras RT-PCR do que a média vista em cepas anteriores do novo coronavírus.

O estudo ainda conclui que a carga viral está também mais alta em homens e mulheres adultos com menos de 60 anos. A análise confirma que as mutações do vírus na variante P.1 (origem do Amazonas) devem estar associadas a uma maior transmissão e podem ser responsáveis por infecções mais graves. Isso ajuda a entender a explosão de casos no Amazonas, que atingiu mais mortes nos dois primeiros meses de 2021 do que no ano passado inteiro.

Para chegar a conclusão de que a nova linhagem P.1 tem maior carga viral nos doentes, os pesquisadores compararam amostras testadas por meio de exame RT-PCR de pacientes com a variante e compararam com outras pessoas não infectadas pela P.1 —ambas em momentos similares da doença, no início dos sintomas dos pacientes.

“Nossas análises indicaram que a carga viral foi em torno de 10 vezes maior nas infecções por P.1 do que nas infecções não P.1”, pontua o estudo.

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O estudo teve como base 250 sequências de alta qualidade do genoma do SARS-CoV-2 colhidas de pacientes em 25 municípios do estado, entre março de 2020 e janeiro de 2021. As sequências foram geradas na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia, em parceria com a FVS (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas) e o Lacen (Laboratório Central) do Amazonas.

Outra revelação importante do estudo é que homens idosos infectados com a variante P.1 do coronavírus apresentaram cargas virais semelhantes àquelas encontradas em casos de infecção por outras linhagens —o que pode refletir a diminuição da resposta imunológica.

O vírus pouco se importa com sexo e idade

Estatísticas obtidas até hoje mostram que são os homens a partir de 60 anos que mais morrem de covid-19, mas que isso vem mudando. Outra análise sugere que indivíduos infectados com P.1 acima de 18 anos “podem ser igualmente infecciosos, independentemente do sexo e da idade”.

“Em homens acima de 59 anos não havia diferença entre a carga viral P.1 versus não P.1, provavelmente porque o sistema imunológico já não lida bem com qualquer das variantes. No entanto, no grupo adulto de 18 a 59 anos, vimos essa diferença independente do sexo: tanto em homens, quanto nas mulheres a carga viral da P.1 era mais alta”, explica.

Naveca diz que isso levanta uma hipótese citada por muitos médicos do Amazonas de que a covid-19 da segunda onda está acometendo mais jovens e de forma grave.

“Sobre a questão dos jovens há também uma grande dúvida: eles estão mais doentes por uma questão comportamental, ou seja, porque largaram de mão dos cuidados, ou é uma característica biológica da variante? Ainda não sabemos”.

Naveca

Isso coincide com o momento da segunda onda, em que hospitais do país relatam terem mais pacientes jovens e graves internados. Segundo registros de óbitos dos últimos dois meses no estado do Amazonas, quatro em cada dez mortos por Covid tinham menos de 60 anos.

No Brasil, essa nova variante já foi encontrada em ao menos 10 estados, mas suspeita-se que ela esteja presente em todos (visto que há poucos sequenciamentos feitos no país para comprovar a linhagem do vírus).

Surpresa com os resultados

Segundo o coordenador do estudo e pesquisador da Fiocruz Amazônia, Felipe Naveca, a quantidade de vírus 10 vezes maior encontrada nas secreções dos pacientes infectados pela variante brasileira surpreendeu os cientistas que participaram da pesquisa.

Isso pode ter relação com a maior transmissibilidade do vírus. E se existe mais transmissão, teremos mais casos e, provavelmente, mais casos graves. Isso pode ajudar a explicar o caos no Amazonas este ano.

Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia

Vale ressaltar que, apesar de a carga viral ser um fator que pode resultar em pacientes com casos mais graves, Naveca explica que isso não é regra. “Temos casos de alta carga viral e a pessoa não apresenta sintomas; depende de cada um“, afirma.

O pesquisador relata ainda que esse estudo é o mais completo de sequenciamento já feito no Amazonas e estudou amostras de quase um ano de pandemia no estado.

“Nós mostramos que o crescimento exponencial da primeira fase se deu por conta da linhagem B.1.195, que foi gradualmente sendo substituída pela linhagem B.1.1.28 e permaneceu como principal até dezembro, quando uma segunda substituição aconteceu coincidindo com o surgimento da variante P.1”, diz Felipe Naveca.

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Ele explica ainda que as análises confirmaram que a nova variante é fruto da evolução da linhagem B.1.1.28 do Amazonas, e que foi detectada primeiramente em dezembro. “E rapidamente se tornou dominante. Nossos resultados mostraram que a substituição de linhagens é algo complexo, mas que teve relação com a queda do distanciamento social”, finaliza.

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