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Chove menos no Brasil, mas por quê?

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Chove menos no Brasil e três fenômenos explicam a falta de chuva em território brasileiro, que gera preocupação no setor de energia e abastecimento.

Chove menos no Brasil e cinco estados brasileiros, entre eles São Paulo, enfrentam o que já é considerada a pior seca em 91 anos de acordo com um comitê de órgãos do governo federal, que emitiu pela primeira vez na história um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro. 

O déficit de chuvas atual já é considerado severo, segundo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), que representa o comitê de órgãos do governo federal. O alerta emitido vale para os estados que se localizam na bacia do Rio Paraná: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná

No primeiro trimestre deste ano, o volume de chuva na região que abastece o Sistema Cantareira foi o mais baixo desde o final da crise hídrica, em 2016, e ficou abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2013, pré crise hídrica.

Neste domingo (13), o Cantareira operava com 46,6% de sua capacidade, menos de dez pontos percentuais do que foi registrado no mesmo dia de junho de 2013, período que antecedeu a crise hídrica.

Mas por que tem chovido menos?

De acordo com especialistas, três fenômenos explicam a falta de chuvas no Brasil:

  • O desmatamento da Amazônia;
  • O aquecimento global causado por queima de combustíveis fósseis;
  • O fenômeno natural La Niña
Desmatamento na Amazônia

O desmatamento da Amazônia é uma das causas para chover menos na região central do Brasil, inclusive no estado de São Paulo. Os alertas tem sido constantes sobre as consequências dos inaceitáveis índices de desmatamento no Brasil e uma das provas disso aconteceu em agosto de 2019, quando uma chuva preta caiu na capital paulista e o dia “virou noite”.

Na época, o Climatempo disse que a fumaça proveniente de queimadas na região amazônica, dos estados do Acre e Rondônia e da Bolívia, chegou a São Paulo pela ação dos ventos, o que causou a chuva preta e a escuridão na capital.

Esses ventos que muitas vezes trazem chuva para São Paulo vêm da região equatorial do Oceano Atlântico e são chamados de ventos alísios.

Eles trazem a umidade do oceano no sentido leste a oeste e, chegando na Amazônia, essa umidade se precipita em forma de chuva. Essa chuva hidrata o solo e é absorvida pelas raízes mais profundas das grandes árvores, que são essenciais nesse processo.

As árvores drenam a umidade e por meio da transpiração, devolvem a umidade para o ar, de forma que o ciclo de umidade e chuva vai se repetindo levada pelos ventos.

Depois de passarem pela Amazônia e se “recarregarem” com a umidade da floresta, os ventos seguem o caminho em direção à Cordilheira dos Andes. Ao se encontrarem com a formação rochosa do local, “fazem a curva” em direção à região central do Brasil, chegando ao Sudeste e Sul.

Por onde passam, esses ventos, se forem úmidos, trazem chuva – daí o nome popular de rios voadores para o que os cientistas chamam de Ventos de Zona de Convergência do Atlântico Sul.

A explicação fica mais simples dessa maneira: com cada vez menos árvores na Amazônia, há cada vez menos umidade para os ventos “transportarem” e cada vez menos chuva no Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Mesmo que a floresta seja restaurada, demora-se anos para que as árvores criem raízes profundas para desempenhar o mesmo papel das que vem sendo devastadas. Uma plantação de soja, que tem tomado conta das áreas desmatadas, inexplicavelmente (ironia), não desempenha o mesmo papel da floresta nativa.

O desmatamento traz prejuízos

Um estudo publicado em maio deste ano na prestigiada revista científica Nature Communications por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outras fez um cálculo usando as áreas desmatadas no sul da Amazônia para saber o quanto isso reduziu a precipitação de chuvas e quanto trouxe de prejuízo.

Trata-se da região que mais sofreu com a expansão agrícola e madeireira no país e que concentra a maior parte das terras cultiváveis e de pastagens da região.

O estudo demonstrou que o avanço do desmatamento da Amazônia é economicamente prejudicial para a agricultura da região, já que a prática reduz o volume anual de chuvas, essencial para as plantações. O prejuízo chega a U$ 1 bilhão por ano.

Segundo os pesquisadores, essa redução avança de tal modo que, em breve, se nada for feito, poderá inviabilizar o lucrativo sistema de dupla safra hoje praticado na região.

Aquecimento global

O aumento global da temperatura e a alteração global no ciclo hidrológico está impactando o Brasil fortemente, reduzindo as chuvas principalmente no Nordeste brasileiro e na região central, segundo Paulo Eduardo Artaxo Netto, um dos maiores cientistas brasileiros, doutor em física atmosférica pela USP.

“Essas não são projeções para o futuro, é o que já está acontecendo hoje. Todos os modelos climáticos mostram que o aumento da temperatura reduz a precipitação no Brasil central. E o que estamos observando é que essa seca na maior parte do país é uma combinação de todos esses impactos juntos”, afirma o professor.

Uma das previsões mais óbvias do aquecimento global é que em algumas áreas continentais, em particular o Nordeste brasileiro e a região central, vão se tornar mais secas, de acordo com Artaxo.

“A própria vazão do rio São Francisco diminuiu significativamente. Regiões do Nordeste brasileiro que eram áreas semiáridas já estão se tornando áridas. Não é previsão para o futuro, isso já está acontecendo agora”, afirma.

Atualmente o aquecimento global é causado principalmente por emissões da queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural.

Calcula-se que 83% de todos os gases de efeito estufa lançados na atmosfera vêm da queima de combustível fóssil e 17% das emissões globais vêm de desmatamento de florestas tropicais. O Brasil é de longe o maior emissor de gases de efeito estufa por causa do desmatamento.

“Os gases de efeito estufa já aumentaram em 1,4 grau a temperatura no Brasil central e estamos indo na trajetória de ter um aumento de temperatura de 3 a 4 graus. Isso vai reduzir significativamente a chuva e vai dificultar a produtividade agrícola.”

Para frear esse processo, segundo o professor, é preciso fazer muito mais do que economizar água.

“O que tem de fazer são duas coisas: parar o desmatamento da Amazônia e fazer pressão nos países desenvolvidos para que eles reduzam a emissão de gases de efeito estufa com a queima de combustíveis fósseis. Sem isso a gente vai ficar enxugando gelo”, afirma Artaxo.

La Niña

Um fenômeno natural responsável por chover menos na Região Sul do Brasil é o La Niña. A última vez que ele chegou ao país foi no segundo semestre de 2020 e durou até o começo de maio de 2021, provocando uma estiagem severa no Sul, que atingiu também o estado de São Paulo.

O La Niña é um fenômeno que, ao contrário do El Niño, diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico tropical central e oriental. Mas, assim como o El Niño, gera uma série de mudanças significativas nos padrões de precipitação e temperatura no planeta.

O que acontece é que o La Niña muda o padrão de ventos na região equatorial, que se tornam mais ou menos intensos, e isso muda a chegada das frentes frias da região sul em direção a São Paulo.

Assim, o fenômeno reduz as chuvas na porção Sul do Brasil, e isso pode ter repercussão em São Paulo dependendo de sua intensidade. Ao mesmo tempo, o La Niña leva mais chuva ao Norte e ao Nordeste. 

O que pensa o jornal?

É de extrema urgência lidarmos com seriedade para o meio ambiente. Os últimos anos tem sido marcados por descasos e retrocessos no combate ao desmatamento na Amazônia por parte do Governo Federal e sua política que favorece grileiros, madeireiros e agropecuaristas.

As queimadas tem sido constantes e cada vez maiores, ano após anos os recordes tem sido batidos, negativamente. Leis que aumentam a fiscalização ambiental tem sido ignoradas e sabotadas pelo Governo Federal. O enfraquecimento crônico em órgãos federais que combatem o desmatamento tem sido voraz e gerado danos para o meio ambiente.

É nítida a urgência em parar o desmatamento e mudar a política no Brasil. Além dos problemas tupiniquins, os países desenvolvidos precisam mergulhar de cabeça no tema para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa.

*este texto teve como fonte matéria do portal G1

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